quarta-feira, 21 de março de 2007

Play a song for me #12 - Humor é coisa séria



Minha formação musical é muito distinta, não me apego a rótulos e acredito que quem realmente ama música, faz o mesmo. Não adianta conhecer toda discografia de um estilo musical se você nem sequer tem idéia do que veio antes, ou mesmo paralelamente, em outros lugares do mundo. Tudo isso pra dizer que esse post é dedicado a um dos melhores compositores que já ouvi. Eu já conhecia parte de sua obra desde pequena, mas só fui conhecer a fundo mesmo todo seu trabalho e sua história depois que um querido amigo me emprestou um cd dele. E esse compositor, é o francês Erik Satie, do fim do século XIX. Isso, música clássica mesmo, mas daquelas que subverteram gerações de músicos, críticos e apaixonados pelo tema. Acima de tudo, foi um grande gozador, com um senso de humor adimirável.

Satie foi um controverso compositor de obras para piano e guiou Debussy em sua criação musical, mas acabou se revoltando com os rumos da composição de sua época. Foi acusado de amador e, por isso, tirou um dipoloma, com êxitos na Schola Cantorum de Paris, aos 40 anos. Enquanto seus contemporâneos, faziam peças com horas de duração, ele compunha algumas de 30 segundos, ou menos. Quando acusaram-no de ser incapaz de compor obras maiores, fez "Vexations", com dois dias de duração. Debussy, certa vez, acusou Satie de criar obras que carecem de definição formal. E o que ele fez? Enviou ao amigo 3 peças em forma de pêra.

Satie foi ainda o responsável pelos primeiros happenings na música européia, como quando fez entrar um Citroën no palco, no meio de uma de suas músicas, ou utilizando-se de instrumentos inusitados como máquina de escrever, sirenes ou apito de navio para compor. Em "Párade", uma de suas obras, com argumento de Jean Cocteau, pediu um cenário a seu amigo Picasso, mas exigiu que o mesmo fosse executado em público, ao vivo. Como se não bastasse, a segunda parte da obra, não foi encenada, mas sim filmada, por René Clair.

Enquanto as composições de sua época tinham nomes singelos e delicados, Satie contra-atacava com outras, chamadas: "Embriões ressecados", "Esboços e provocações de um cafetão de pau", "Fantasiado de cavalo", "3 valsas para um esnobe execrável", e por aí vai...

Queria ter colocado o disco "Best Of Satie" (por Klára Körmendi, Jérôme Kaltenbach e Orquestra Sinfônica de Nancy), o mesmo que meu amigo me emprestou, mas de tanto ouví-lo, as últimas músicas estão arranhadas e não consegui outra cópia a tempo. Por isso acabei optando por outro disco, com quase as mesmas peças, só que com outra interpretação. O disco é o "Piano Works", por Daniel Varsano e Philippe Entremont. Se eu conseguir o primeiro, coloco no blog, simplesmente porque a interpretação é imensamente superior, mas o "Piano Works" tem também seu valor, até porque nesse disco tem algumas peças mais experimentais dele e não só as clássicas.

Não é à toa que admiro a él Records, pois o selo também lançou um disco do francês subversivo, que eu tenho muita vontade de ouvir.

Aconselho a procurar mais coisas sobre ele e o Les Six; a wikipedia tem um belo artigo. No link da wikipedia, você acha informações tão bacanas como essa: "Foi o inventor da música ambiente, que ele chamava de musique d'ameublement. A música sendo usada como uma mobília, para preencher o ambiente. Segundo ele, era uma música que fizesse parte dos ruídos naturais e os levasse em conta, sem se impor, que tomasse conta dos estranhos silêncios que ocasionalmente caíam sobre os convidados, e que neutralizasse os ruídos da rua.
Mas sua música não funcionava porque as pessoas insistiam em ficar quietas prestando atenção à sua performance. Daí ele gritou nervoso: "Falem alguma coisa! Mexam-se! Não fiquem aí parados só escutando!". Na época sua idéia pareceu uma piada."


Satie foi um compositor de sensibilidade enorme, viveu toda sua vida na miséria, mas sempre com um sorriso no rosto e uma farpa na língua.

"Eu cago música" - Erik Satie


(A grande maioria das informações sobre o Satie foram retiradas de um livro do Julio Medaglia)

3 comentários:

Gilberto Custódio Junior disse...

O mais engraçado foi ler sobre a duração, quando vc pensa que vai encontrar algo do tipo três horas, surge um DOIS DIAS. Dei risada aqui, haha! Ouvirei o disco!

Fernando Niero disse...

Amo Satie.Fui apresentado a ele por um professor de teatro há anos atras, que usava em alguns exercícios. canções meio melancólicas, misteriosas, densas

tb gosto muito de Debussy:Claire de Lune, apesar de meio desgastada, ainda é uma das minhas "All-Time-Favorites"

Marcus V. F. Lacerda disse...

Seu texto me oprime, cara! Eu odeio Satie...

Mas gostei do seu blog...


:D

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